Imagine um piloto tentando vencer uma corrida olhando apenas pelo espelho retrovisor. Ele até pode conhecer bem o circuito, mas cedo ou tarde será ultrapassado por alguém que tem um painel completo de dados, sensores inteligentes e uma equipe inteira lendo cada curva em tempo real. Agora pense: será que sua empresa também está correndo assim, decidindo com base na experiência, mas sem visibilidade clara do que realmente está acontecendo?
​​​​​​​Com as empresas, é a mesma coisa. Intuição e vivência são valiosas, mas não bastam mais para competir em um mercado guiado por dados e automação. Pensando nisso, a Inbix promoveu um Talk sobre “IA com Dados e Automação: Da Coleta à Estratégia”. O evento, conduzido por Yago Soares (especialista em Power BI, Stech Soluções Tecnológicas) e Rodrigo Rezende (especialista em BI, fundador da Dataholds), reuniu empresários, gestores e profissionais de diversas áreas para debater, com sinceridade e profundidade, o momento atual das empresas quando o assunto é dados, BI e inteligência artificial.

 

Decisão baseada em dados: entre a realidade e a utopia

Logo de cara, um dado importante: a maioria das empresas ainda toma decisões com base em planilhas manuais ou pura intuição. No assessment realizado para o evento, isso ficou evidente. Para muitos negócios, dashboards e automações ainda parecem algo distante, ou restrito a empresas de grande porte.Mas, como Yago afirmou:“Implementar um projeto de dados não é mais luxo de empresa grande. A tecnologia está acessível. O que falta é estrutura, processo e cultura.”

Rodrigo completou:
​​​​​​​“Análise de dados não é só dashboard bonito. É entender o negócio, formular perguntas certas e testar hipóteses.”

Dados bem analisados não substituem a experiência, mas potencializam sua precisão.

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O problema não é a ferramenta. É o propósito.

Eles destacaram que a barreira não é mais a tecnologia. Hoje, qualquer empresa com estrutura mínima pode automatizar rotinas, criar dashboards e até utilizar IA generativa. O que nos leva ao questionamento: Qual o maior desafio em projetos de dados hoje? E a resposta é: estruturar os dados e alinhar expectativas.

Rodrigo enfatizou que o desafio é saber o que a empresa quer responder, quais resultados busca e como os dados vão ajudar nisso.

A pressa por implementar ferramentas antes de entender os processos internos foi um erro comum citado por ambos. Muitas vezes, empresas buscam consultorias de dados quando o barco já está afundando, sem ter clareza sobre o que de fato precisam.

Ferramentas como Power BI, Data Lakes e IA aplicada à análise de churn ou forecast de vendas são aliados poderosos – quando orientadas pela estratégia e pela realidade da empresa.

Um ponto de reflexão posto por Yago trouxe risos e identificação no público. O empresário vai para um mega evento em São Paulo, vê soluções de ponta e volta querendo aplicar aquilo igualzinho na empresa dele. Mas esquece que está nos 97% da base da pirâmide, e não nos 3% do topo com dinheiro, time qualificado e maturidade empresarial.


Esse descompasso entre ambição e realidade só gera frustração. Antes de falar em IA, é preciso falar de processo. E antes disso, de cultura e de adesão do time. Automatizar sem clareza é desperdiçar energia.
 

Cultura de dados: a ferramenta não muda o jogo sozinha

Laís, da PLSS - Soluções em TI, trouxe uma das dúvidas mais recorrentes entre os participantes: “Por onde começo?”. A resposta unânime dos especialistas: comece olhando para dentro de casa. Veja o que você já coleta, entenda seus processos e defina os indicadores que realmente movem o ponteiro do seu negócio.

Se olhar para sua empresa e não tiver documentação, estruturação clara de processos para todos os envolvidos, seja tomadores de decisão ou operadores, é seu dever de casa ajustar isso antes de falar de dados, tecnologia e IA.

É importante também o empresário ter gestão visual das coisas, porque às vezes isso está claro só para ele como gestor, mas o time que está na operação tem isso visualmente?

Yago destaca que é importante ter processo, centralizar dados, envolvimento e capacitação das pessoas. Se uma dessas pontas falharem mesmo depois da implementação, o projeto vai ruir. É de fato uma mudança de cultura, uma evolução contínua dentro da empresa.

Ele trouxe ainda uma comparação entre dois perfis de empresa:

  1. A que tem dashboards lindos, reuniões com super estrutura de apresentação, mas ninguém de fato usa os dados para decidir.
  2. A que tem dados simples, até anotados em lousas, mas usa isso todos os dias para guiar decisões estratégicas.

Como Rodrigo lembrou, não se muda a cultura jogando um dashboard na mesa, essa mudança acontece ouvindo, educando e conectando dados com o dia a dia das pessoas.

Automatizar sim, mas só quando o destino estiver claro

Na parte final do Talk, os especialistas falaram sobre automações e como elas devem ser consequência, não ponto de partida.

Diogo, da Águia Sistemas, pergunta se os palestrantes têm exemplos práticos da integração de IA nas automações. Yago compartilhou um case em que recusou automatizar a extração de dados para dashboards porque o cliente ainda não sabia qual seria a entrega final.

“Automatizar sem saber o que vai entregar é criar retrabalho. automação certa vem de um projeto bem definido.”

Rodrigo complementou com uma visão prática:

“Automatização tem que eliminar fricções. Se o processo ainda está confuso, automatizar só aumenta o caos.”

Outro case trazido por Yago foi conversacional, o WhatsApp conversacional com o banco de dados, além de dar o dashboard ao cliente para a tomada de decisão, esse cliente consegue conversar com a base de dados já estruturada, perguntar coisas e ter a informação de forma fácil.

Analisando as respostas do assessment, observa-se um nível de maturidade das empresas, pois a maioria respondeu que algumas rotinas são automatizadas com ferramentas simples, algumas ainda responderam que têm automações com IA integradas a processos, o que já é um caminho.

E quando o produto não é físico? Como medir sucesso?

Laura, colaboradora da Inbix, trouxe uma pergunta frequente em setores como eventos, marketing e serviços: Quando não vendo produto físico, como sei se estou indo bem?

Para responder, Yago fez uma objeção: Como o seu sucesso é medido internamente?

A dica dos especialistas foi usar engenharia reversa: comece pelo objetivo da área (como NPS, satisfação, awareness) e identifique os indicadores que mostram progresso em direção a ele.

Essa dúvida também vai de encontro com os desafios que o time de marketing institucional de empresas como a Dbug Telecom enfrentam. Como extrair números de algo que não é físico?

E aí está o X da questão, não é sobre os números, é sobre a narrativa, a comunicação e em como se vende a ideia, mostrando o quão aquilo é importante para o negócio como um todo. Para isso, é preciso entender qual é o objetivo final, ter indicadores bem definidos, uma estratégia bem desenhada e expectativas alinhadas com toda a equipe, desde o gestor.

Conclusão: dados, IA e automação não são o fim, são o meio

Transformar dados em estratégia para a sua empresa não exige um exército de cientistas nem milhões em investimentos. O primeiro passo é mudar a mentalidade. Educar o time. Integrar dados. Começar pequeno, mas com clareza.

Hoje, a empresa que não olha para dados com método, cultura e propósito está ficando para trás. Decidir com base em achismos é perigoso demais. E, com ferramentas acessíveis, não há mais desculpa para adiar essa transformação.

A principal mensagem que podemos extrair desse Talk?
​​​​​​​Não é sobre ter a melhor tecnologia. É sobre saber usá-la com propósito.